O vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, disse que o tarifaço dos Estados Unidos vai afetar só 35,9% do que o Brasil exporta. Segundo explicou Alckmin, que também é ministro da Indústria e Comércio e foi o principal negociador do governo brasileiro na crise tarifária com os EUA, a lista de isenções divulgada pela Casa Branca vai beneficiar 45% da pauta de exportações brasileiras.
Além disso, explicou Alckmin, outros 20% dos produtos mantiveram sua situação anterior, ou seja, com taxas setoriais que já eram aplicadas não só para o Brasil como para outros países — é o caso do aço e dos automóveis.
Alckmin afirmou que o "tarifaço é injustificado":
— Os americanos vão pagar mais caro pelo café, pela carne, pelos peixes — resumiu o vice-presidente, acrescentando que há um caminho para seguir negociando com os EUA, que participa na manhã desta quinta-feira (31) do programa Mais Você, de Ana Maria Braga.
— Tarifaço é um perde-perde — acrescentou.
Mas o vice-presidente reforçou que, para o governo brasileiro, "é inegociável a soberania nacional", lembrando que há independência de Poderes no Brasil. O presidente americano Donald Trump justificou a tarifa aplicada sobre o Brasil — a maior entre as direcionadas aos principais parceiros comerciais dos EUA — porque, segundo ele, o Supremo Tribunal Federal estaria fazendo uma "caça às bruxas" ao julgar o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Produtos
Entre os produtos da lista livres da taxação, estão suco e polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes e aeronaves civis, incluindo seus motores, peças e componentes. Também ficaram de fora do tarifaço polpa de madeira, celulose, metais preciosos, energia e produtos energéticos.
A lista, no entanto, não inclui café, frutas e carnes. Todos a serem taxados em 50%.
“Às vezes você tem um setor que 90% dele vende para dentro (consumo interno) e exporta 10% apenas. Nesse caso, ele é menos atingido. Agora, você tem também setores que exportam metade da produção. E, dentro dessa metade, 70% é para os Estados Unidos. Ele então é muito atingido”, acrescentou.
Plano
Segundo Alckmin, o governo já tem um plano de ação “praticamente pronto”, com foco em preservar empregos e a produção.
“Ainda está sob análise porque só ontem foram apresentados alguns detalhes do tarifaço.
Ele explicou que o presidente Lula ainda vai bater o martelo, e que o plano terá algum impacto de natureza financeira, creditícia, tributária, mas que não deixará ninguém desamparado.
“Em primeiro lugar, vamos lutar para diminuir aqueles 35,9% que foram efetivamente atingido pela tarifa dos 50%. Não damos isso como assunto encerrado. A negociação crescerá. Não encerrou ontem [com o último anúncio dos EUA]”, disse.
“Em segundo lugar, vamos buscar alternativas de mercado; e em terceiro, vamos apoiar setores que precisam de apoio, como o de pescado, o de mel, frutas”, acrescentou.
Alckmin disse que o governo pretende ampliar a lista, incluindo outras frutas, bem como a carne bovina. “Eles haviam citado a manga, por exemplo. Mas ao que parece esqueceram. Vamos lembrá-los”.
Novos mercados
O foco, reiterou ele, é buscar mercado para não prejudicar produtores, de forma a evitar queda na produção por falta de mercado.
“O Brasil tem, em números redondos, 2% do PIB do mundo. Então, 98% do comércio está lá fora. Temos de correr atrás na área agrícola. Vale lembrar que abrimos 398 novos mercados. Somos protagonista alimentar, energético e do clima”, argumentou.
Ele acrescentou que, após muito tempo de isolamento, o Mercosul fechou ótimos acordos recentemente com Singapura, ano passado; e que ainda este ano deverá entrar em vigor outro acordo com a União Europeia.
“Serão 27 países dos mais ricos do mundo, nesse acordo comercial Mercosul-União Europeia. Fora outros quatro com Noruega, Suíça, Islândia e Lichenstein, que também são ricos mas não estão na União Europeia. São acordos que vão ajudar muito o comércio exterior brasileiro”, complementou.
Soberania
Outra questão ressaltada por Alckmin durante o programa foi a da soberania, algo que, para o governo, é inegociável.
“Até porque não é possível um poder interferir em outro. É bom lembrar que o presidente Lula ficou preso um ano e meio e nunca quis derrubar a democracia nem o poder judiciário”.
Alckmin disse que Lula se reuniu ontem com ministros da suprema corte, e que um documento foi preparado em resposta, reafirmando a separação entre os poderes no Brasil; e que tal interferência externa, como a tentada pelos EUA, vai contra a democracia e o estado de direito.
“Imagine que a Suprema Corte americana tivesse processado um ex-presidente [daquele país] e o Brasil falasse que [por isso] aumentaria a tarifa de produtos americanos que entrassem aqui, apenas por não gostar da decisão”, questionou o vice-presidente brasileiro.
Ainda segundo Alckmin, o governo tem mantido conversas com autoridades norte-americanas e, também, com representantes das chamadas big techs (empresas de tecnologia).